sábado, 1 de janeiro de 2011

Vinho doce


Prefiro me manter anônimo, pelo menos por enquanto. Vão notar neste conto a ausência do meu nome, em um futuro próximo o ouvirão, talvez até cansem de ouvi-lo.
Sentado junto ao balcão, minha companhia era uma garrafa de vinho, era a terceira da noite. O mundo ao meu redor estava girando, eu não estava nem ai. Quando se perde um grande amor o mundo pode girar, sacudir, ou até mesmo explodir. Pois tudo que te interessa são aquelas velhas lembranças do amor que agora se foi.
Meu corpo tremia, o suor escorria pelo meu rosto. Com meus olhos focando o copo estava desligado do mundo. Levei mais uma vez a taça de vinho até a boca e uma mão suave tocou meu ombro, virei o rosto rapidamente pensando ser Thais. Queria acreditar que ela tinha se arrependido do termino do namoro, queria acreditar que seria seu rosto aquele que veria ao me virar, mas não, me deparei com uma garota de cabelos negros, olhos castanhos, um sorriso encantador. Apesar de linda não era a Thais.
Com a mão direita sobre o balcão, e a esquerda depositada em meu ombro a garota ficou um longo minuto a espera da balconista, que paquerava um cara enquanto o servia no canto do balcão.
Tentei voltar minha atenção para o copo, não consegui. A mão gelada daquela garota sobre meu ombro suado me fazia tremer ainda mais. Olhei novamente procurando a balconista, e lá estava ela, toda derretida para um homem que julguei desconhecido.
Voltei a encher meu copo, e a arrastei pelo balcão em direção da garota ao meu lado. O copo acabou por esbarrar na mão que a jovem depositava no balcão, eu estava realmente bêbado, sem noção de espaço.
- Pode beber. Vinho doce para um doce de garota. – Sussurrei no ouvido da desconhecida.

Empurrando o copo de volta, a garota direcionou o corpo em minha direção, seu rosto estava colado ao meu, ela parecia me cheirar. Senti seus dentes mordiscar minha orelha quando ouvi sua voz doce dizer em meu ouvido:
- Amo vinho doce, mas apenas Cristine sabe a safra que realmente gosto.
Cristine era a balconista, mas aquela noite parecia estar ocupada, parecia não poder atender os demais clientes.  Várias pessoas estavam no balcão esperando por suas bebidas quando finalmente Cristine resolveu voltar a atender.
Ainda com a mão em meu ombro a misteriosa garota esticou o braço direito se debruçando sobre o balcão. A mais de dois metros Cristine percebeu a atitude da jovem e saiu caminhando para a adega.  Quando voltou estava com uma garrafa empoeirada e uma taça que aparentava ser cristal.
Enchendo a taça sem dizer uma palavra, Cristine cumprimentou a garota com um aceno de cabeça antes de voltar para adega levando a garrafa.
 Pegando a taça, a garota saiu do balcão. Sentou sozinha junto a uma mesinha onde degustava o tal vinho. Tentei me conter, não consegui. Fui caminhando até lá em passos tétricos, esbarrando em um e depois em outro. Sentei em uma cadeira do lado oposto da mesa. Ela apenas ergueu os olhos a me ver chegar, depois voltou a baixar os direcionando para taça.
- Sabia que viria. – Seus olhos me focaram. Bebeu mais um gole. – Vocês homens são previsíveis.
- Vim por que tive uma dúvida! – Falei enchendo uma taça de vinho. – Na verdade são duas.
- Não, eu não sou daqui. E prefiro não lhe dizer meu nome.
Incrivelmente eram as duas coisas que perguntaria, mas pensei serem perguntas previsíveis.
- Acho que devo levantar e voltar para o balcão. – Eu estava constrangido. Senti-me tapeado.
- Fique! O balcão está tumultuado. – Falou exibindo um sorriso contagiante. - Você estando aqui, ninguém vem me incomodar.
Finalmente reparei como aquela garota era linda, tinha cabelos negros que cobriam totalmente as costas, olhos castanhos, sua boca estava avermelhada pelo vinho. Sua pele branca se tornava ainda mais imponente pela maquiagem escura que contornava seus olhos.
- Laísa! Meu nome é Laísa. – Molhou os lábios com um gole de bebida – Moro em uma cidade próxima, mas freqüento o bar já faz um tempo.
-Tenho conhecidos aqui, acabei de sair de um relacionamento. -Respirei fundo ao ver a besteira que estava falando. Resolvi terminar. – Vão pensar que o relacionamento não significou nada, que já estou envolvido com uma desconhecida.
- Fique calmo garoto, se eles não nos vir se beijando. Vão deduzir que nada aconteceu, e que mesmo estando comigo, não teve coragem de me beijar.
- Isso que é estranho, eu quero te beijar! - Pareci confuso ao falar. – O relacionamento foi lindo, mas ela me trocou pelos estudos, sinal que realmente não fui nada para ela.
- Se quer algo deve fazer. Não pense em agradar o grande público, deve ser egoísta pensar em você.
Ela bebeu o último gole de seu vinho. Os olhos negros fitavam os meus, que não conseguir desviar do seu decote.
- Se quer muito uma coisa, deve fazer. Seja destemido, encare o mundo de frente.
Eu estava suando frio, com a pele fervendo. Fechei os olhos para refletir, quando senti meus lábios sendo tocados.
Tentei me envolver no beijo, mas na verdade ela estava com um dedo em minha boca, era o indicador, tocava meus lábios como pedisse silêncio.
Seu rosto encostou-se ao meu, sussurrou em meu ouvido:
- Vamos sair daqui, vamos onde ninguém pode nos ver.
Levantei devagar apoiando as mãos sobre a mesa. Me dirigi para junto da garota, tropiquei em uma cadeira, e quase cai sobre ela, ela me segurou nos braços, e foi me carregando devagar  a caminho da saída. Quando saímos caminhamos até meu carro, ou melhor, Laísa me carregou até ele. Dei a chave a ela, dizendo:
Me leve para onde quiser. Fui embarcado no banco do carona, ali apaguei.
Quando acordei o carro estava estacionado em meio a uma floresta.  Laísa estava junto ao carro, sentada no capo.  Levantei como pude e caminhei para junto dela, ao sentar no capo, vi que o olhar de Laísa estava triste. Comecei a acariciar seu rosto, e levei o meu para junto dele.
Nossos lábios se tocaram, sua boca tinha um gosto adocicado, mas nem um pouco parecido com vinho, nem chiclete, isso não importava. Ela ficou de pé e me puxou para junto dela, e voltamos a nos beijar.
Beijamos-nos por longos minutos naquele lugar deserto, suas mãos percorriam meu corpo, e as minhas o seu.
Sua pele era gelada, tentei acreditar que era pela fina garoa que caia sobre nós, foi quando senti a melhor sensação do mundo, até aquele momento.
Os dentes afiados de Laísa cravaram em meu pescoço, pude sentir que sugava minha jugular, não quis que parasse.  Acariciei suas costas me entregando em seus braços.
Naquele momento apaguei.
Acordei horas depois, já era dia claro.  Eu estava dentro de uma espécie de Caverna, um lugar úmido e sombrio. Comecei a revirar meus bolsos procurando a chave do carro, achei apenas um bilhete escrito com uma caligrafia perfeita.
Conteúdo do Bilhete
Já deve ter ouvido falar de vampiros, agora você é um.
Algumas lendas, são apenas lendas.
Outras são verdade.
Basta a você descobrir.
Favor não morra para isso.
P.S. Laísa
Sentado ali me senti mais vivo que nunca, Thais já estava caindo no esquecimento. Meu coração não pulsava mais, e eu precisava sobreviver. Não sei se “sobreviver” seria a palavra.
Talvez eu continue minha história...

3 comentários:

  1. Adorei o conto, mocinho.
    Acho que você deveria continuar essa história.
    Vou ficar esperando ; )

    Beijos*
    Vivi
    http://livrosdavivi.blogspot.com/

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  2. Adorei...
    Muito interessante e no fim fica aquele gostinho de 'quero mais' .. espero que vc continue o conto.. ansiosa.
    Beijo .. Láh

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  3. Nossa, realmente eu adorei demais esse conto, super bem escrito, sempre com um gostinho de quero mais!
    http://lollyoliver.wordpress.com/

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