segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Vodka sem gelo



Por favor, antes de ler este conto leia Vinho doce, pois de certa forma está é uma continuação.

 Anos que não sei o que é ter uma casa, viajo o país à trabalho. Meu nome é Natanael, já estou velho para o que faço, mas não conheço ninguém que faça isso por aqui.
Já passava das 22h30min, sai do banheiro daquela pequena pousada nu com a toalha sobre o ombro.
Sobre a cama ainda arrumada catei a camiseta do AC/DC já desbotada, e a calça Jens que ali repousava. Sentei na cama para calçar os coturnos, os velhos coturnos que me traziam lembranças do exercito.
Levantei da cama, e logo vesti o sobretudo que estava colocado ao lado do travesseiro.  
Devidamente vestido, juntei meus pertences e minha mochila.tranquei a porta ao sair.
Caminhei lentamente pelo corredor a caminho da recepção.
Chegando à recepção, larguei as chaves e acompanhadas por algumas notas, sabia que era mais que o valor das duas diárias, mas não queria papo com aquele velho.
- Meu filho. Tem dinheiro demais! – Pude ouvir o velho gritar enquanto saia com meu carro pela pequena estrada.
Eu dirigia um Opala ano 1976, 6cilindros. Posso dizer que era o carro perfeito para mim. Claro fiz algumas modificações.
Voltei para o bar no qual estava na noite anterior, o bar estava vazio. Fui direto ao balcão e pedi uma vodka sem gelo, ao me servir a garçonete sussurrou em meu ouvido:
- Calma, ela está vindo.  Faz dois meses que ela vem toda noite.
- Sim Cristine, eu tenho a noite toda.
Minutos depois pedi mais uma dose de vodka, ao me servir Cristine falou:
- Olha quem está entrando. Sempre desacompanhada.
- Ela não estava com um cara ontem? Foi o motivo que não pude me aproximar. – Eu estava confuso, temia encontrá-la acompanhada.
Sentada em um canto do bar aquela garota poderia seduzir qualquer homem com o olhar, mas ficava sozinha bebendo uma taça de algo que parecia vinho.
Bebi rapidamente o resto de minha vodka e caminhei até lá.
- Você não é da cidade, certo?
- Não, nem você.  Aquele Opala com placas de São Paulo, eu garanto que é seu!
- Sim é. Foi do meu pai.
- É um belo carro. Adoraria sentir a força do motor. – Falou sussurrando em minha orelha. Pude sentir seu hálito gelado em meu pescoço.
Naquele momento vi entrar, o garoto que estava com ela na noite anterior.  Por mais que ela fingia não conhecer, ele não tirava o olho dela.
Por muito tempo fiquei ali, conversando e bebendo, ao todo bebi cinco doses, três delas batizadas.
A cada gole que eu bebia parecia mais bêbado, e a garota demonstrava mais e mais interesse.
Mordiscava minha orelha, sussurrava coisas excitantes. Eu ali me deixando levar.
O jovem permaneceu sentado junto ao balcão por todo tempo, bebia vinho como na noite anterior. Mas desta vez em uma taça.
Já eram quase cinco da manhã, levantei estiquei o braço para despedir.
- A noite aqui está acabando, poderíamos para um lugar mais calmo. – Sua voz era doce, mas seu hálito exalava cheiro de sangue.
Percebi o vinho que ambos bebiam. Por isso Cristine tinha certeza que ela voltaria.
- Quer que eu dirija gato? Parece que você não está em condições.
- Minha máquina quem dirige sou eu. Desculpa, estou bem.
Arranquei o Opala dirigindo em sentido contrario ao da cidade, cada vez mais para o alto das montanhas.
Em uma pequena entrada, estacionei. Naquele lugar podíamos ver varias cidades, a vista se tornava mais linda em meio à noite.
Desembarquei caminhando para frente do carro, que estava apontada em direção ao barranco.
Em um segundo, a garota que se disse chamar Laísa estava junto a mim, apreciando aquela linda visão.
Eu me virei de frente para ela a sentando sobre o capo do carro, mexia em seu cabelo tentando fazer com que ela se desligasse do mundo. Sempre mantendo meu rosto afastado do dela, o cheiro de sangue me causava repulsa.
Ela fechou os olhos e começo a puxar meu corpo para junto do dela, seus lábios se encaminharam para os meus. Beijou-me devagar, até que:
 - Água benta...
Com apenas um golpe penetrei uma estaca em seu pescoço, descendo pela direita em diagonal, para esquerda. Me joguei para trás afastando meu pescoço, e procurando uma maneira de acertar seu coração com um segundo golpe.
Meu corpo foi jogado para longe por um segundo vampiro que me puxou afastando dela.
-Laísa Laísa acorde. – Pude ouvir o jovem vampiro balbuciar.
-Me tire daqui, o sol vai nascer. E você é inexperiente em lutas, não sabe controlar suas habilidades. -Pude ouvir a voz doce que agora não passava de gemidos.
O jovem com aparência de vinte e poucos anos carregou Laísa nos braços e correu velozmente para o meio da mata.
Por mas experiente que eu fosse em caçadas, era arriscado lutar com dois vampiros. Além do mais eu era um Mercenário, meu trabalho ali estava cumprido. O pagamento seria depositado na noite seguinte, com a ausência de Laísa no bar. Cristine estaria satisfeita até descobrir a existência de um segundo sanguessuga. Isso se já não tivesse percebido.
Desci as montanhas a mais de 100 km/h, minutos antes de chegar à cidade notei estar sendo seguido, vultos me acompanhavam pela mata lateral da estrada.
Os primeiros raios de sol começaram a surgir quando notei não estar mais sendo perseguido, o jovem vampiro devia ter voltado para tentar salvar Laísa.
 Oh merda! - Esmurrei o volante várias vezes.Segui meu caminho, temendo ser a caça.

domingo, 2 de janeiro de 2011

O conteúdo da FITA TAPE


Deitado na cama as horas não passam. Lembranças de minha infância fluem vagarosamente, como água em uma vertente.  Era tão lindo cavalgar pelos campos do sítio para recolher as vacas, comer os quitutes que minha mãe preparava. Aqui cavalgo pelos corredores em minha cadeira de rodas, ando vagarosamente até a janela onde espero meus familiares.
Quando tinha nove anos prensei minha mão em um debulhador de milho, era um aparelho manual, movido por manivela. Felizmente não perdi nenhum dedo, mas o anelar e o mindinho ficaram tortos.  Foi curado com banha de porco e mais algumas ervas que não recordo, o ferimento foi fundo.
Mesmo com a mão enfaixada continuei fazer as coisas do meu cotidiano, pois era o filho mais velho e deveria ajudar meu pai na lida. Em um mês a ferida já estava curada, e eu podia trabalhar como antes.
Morei no sitio até meus doze anos depois mudamos para cidade. Minha irmã mais nova tinha problemas de saúde, não podíamos levá-la toda vez de carroça até o médico que ficava a mais de 10 quilômetros. Meu pai acabou por vender o sitio e todos os animais juntos.
Não me adaptei com a mudança.
Durante alguns dias fiquei sem sair de casa, apreciava pela janela cada vez que via um cavalo. Não entendia como as crianças podiam ser felizes naquela cidade de pedra.
Pouco antes de completar treze anos, comecei trabalhar em uma olaria. Carregar barro, empilhar tijolo, esse era o meu dia-dia sem nem pensar em estudar ou dizer para os meus pais que estava cansado.
Enquanto trabalhava podia ver os garotos ricos caminhando com as garotas, subindo e descendo a rua. Eu só pensava, meu destino será traçado por mim.
Com quinze anos eu já freqüentava bailes, logo arrumei inimigos. Eu apesar de pobre gostava um fandango, uma peleia.O mundo estava em guerra. O Nazismo estava sendo derrotado.
Larguei o emprego na olaria para tentar o serviço militar, fui dispensado por ter os dedos tortos, apenas por isso. Já tinha dezoito anos, precisava de dinheiro e o exercito não me queria, com muita insistência dos patrões voltei para a olaria. No ano seguinte voltei a tentar o serviço militar, e mais uma vez fui dispensado. Depois da segunda frustração no exercito resolvi que realmente era o dono do meu destino.
Eu tinha apenas dezenove anos, deixei meus pais na pequena cidade de Sapiranga e fui rumo à capital. Morei como pensionista em uma pousada de Porto Alegre e logo consegui emprego em um armazém, vez ou outra visitava meus pais.
"Calma garoto! Eu tenho que tomar meus remédios, a Enfermeira está chegando!"
Garoto, esta é minha filha, esposa, minha família. Ela e a Juliana, que é a enfermeira do turno da noite, são as pessoas que ainda olham por mim.
“Um tlec onde o tape foi pausado.”
“Um chiado, e a voz recomeça.”
Onde estávamos? Ah sim, eu não vi meus pais envelhecer, estava muito ocupado para isso.
Quando tinha vinte, levei minha namorada para os meus pais conhecer. Minha mãe não aprovou, pois aquela era uma garota da cidade grande. Minha vida era tomada por decisões alheias, aquela era minha. Não ia largar minha amada para agradar meus pais.
Logo quando completei vinte e um, assumi sociedade no Armazém e o tornamos um pequeno mercado. Comprei uma picape Chevrolet  para poder transportar os produtos do atacado para o mercado sem pagar frete.
O tempo passou e a Helga engravidou, tive que lutar muito para juntar dinheiro e poder casar. O pai dela me matava se eu não casasse.
Casei em junho de 1949. Lembro como hoje, a Helga estava linda a barriga apontando no vestido. Muitos nos condenaram por que ela casou grávida, eu nem me importei com opiniões alheias queria ser feliz.
A Helga era linda, cabelos loiros longos e pele clarinha como a neve.
Quando meu filho nasceu, foi o dia mais lindo de minha vida, nem comparado ao casamento. Diferente do meu, o parto do nosso filho foi feito em um hospital. Nasceu um lindo menino, olhos azuis como os da mãe, mas com o cabelo mais escuro como o meu. Seu nome era Antônio.
“Um suspiro forte chiou o alto-falante”
Infelizmente, meu casamento terminou poucos anos depois.  Eu trabalhava duro até tarde da noite, de segunda a segunda. Pensava em comprar a parte do meu sócio no Mercado.
No fim do segundo ano do meu casamento, lá por maio de 1951 me tornei dono do mercado. Comprei a parte do seu Zé avista, sabia que ele queria se aposenta e comprei a parte dele avista.
Eu estava extremamente feliz com a aquisição, a Helga não. Eu já não tinha mais tempo para a família era só trabalho e trabalho. Pensava em dar um bom futuro para o nosso garoto.
Era final de 1952, quando Helga me abandonou dizendo que voltaria para a casa de seus pais, e levaria Antônio com ela. Eu aceitei, com muito sofrimento aceitei.  Não demorou muito para ela achar um novo marido, afinal, mesmo com filho ela era linda.
A minha vida se destroçou, mesmo tendo a casa, o mercado, aparentava que eu não tinha nada. Pagava uma gorda pensão para o nosso filho e vivia sozinho. Boa parte do que ganhava gastava em prostibulos, ou em boates, ou praticando meu maior Hobby, a troca de carro. Fui levando minha vida solitária, e sempre bem acompanhado.
Casei novamente, em 1972. Na verdade não foi um casamento, trouxe uma garota para morar comigo.  Ela era vinte anos mais nova que eu. Isso não importava, ela apenas cuidava da casa, e de mim na cama. E eu cuidava de arrumar nosso sustento. A Lurdez era ótima na cozinha, e melhor na cama, nosso relacionamento durou quase quinze anos.
Triste foi no quarto ano de casamento quando descobri que ela não poderia ter filho, chorei muito. Pois meu primogênito nem se quer me chamava de pai, e agora não poderia ter outro, não com ela. Quando terminei o relacionamento, eu estava com 60 anos, e ela com apenas 40. Acredito que eu não dava mais no couro, não como ela queria. Resolvi eu tomar a iniciativa de terminar, pois vi que ela estava insatisfeita.
Os anos voltaram a passar depressa,  1995 abandonei o mercado. Tentei presentear meu filho dando- lhe de presente, pois era um ótimo ponto. Mas ele disse ter uma boa carreira, que sua mãe soube administrar a pensão, e garantir bons estudos. Disse também que não largaria tudo pela vontade de um velho gaga... Sim garoto, ele me chamou de velho gaga.
Acabei por vender o mercado, com o dinheiro comprei dois apartamentos que coloquei para alugar e ainda sobrou uma graninha. Fui pego desprevenido, pela hipertensão, por reumatismos. Fui parar entrevado em uma cama, pelas doenças.
Durante algum tempo paguei uma mulher para cuidar de mim, mas era ruim pois quase toda semana tinha que ir ao hospital. Lá no hospital uma enfermeira, me perguntou:
- Vozinho, tu não se sentiria melhor em uma cliníca, em um asilo, onde terá a companhia de outros idosos. – A voz se tornou mais doce, tentando parecer feminina.
Demorou mais aceitei a idéia, faz cinco anos que estou aqui. Meu filho me visita só no natal e no meu aniversário. Já sou bisavô, tenho dois netos e quatro bisnetos. Se hoje eu os enxergar, nem reconheço.
Meu  jovem desculpe me emocionar, mais já estou velho. E não tenho ninguém. Felizmente alguns jovens fazem trabalho comunitário e vem nos visitar. Mas como te falei, minha família é a Juliana, e a Tamara, As duas enfermeiras.
“toc toc” batidas na porta.
Garoto você deve sair, O senhor Anselmo deve dormir.
“tlec” O gravador sendo desligado.
Este é o conteúdo de uma fita tape que gravei em 2005 para um trabalho de escola.
Depois daquele dia, visitei o senhor Anselmo mais quatro vezes, três no asilo e uma em seu enterro.  
Resolvi públicar o conteúdo da fita em memória do senhor que me ensinou muito.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Vinho doce


Prefiro me manter anônimo, pelo menos por enquanto. Vão notar neste conto a ausência do meu nome, em um futuro próximo o ouvirão, talvez até cansem de ouvi-lo.
Sentado junto ao balcão, minha companhia era uma garrafa de vinho, era a terceira da noite. O mundo ao meu redor estava girando, eu não estava nem ai. Quando se perde um grande amor o mundo pode girar, sacudir, ou até mesmo explodir. Pois tudo que te interessa são aquelas velhas lembranças do amor que agora se foi.
Meu corpo tremia, o suor escorria pelo meu rosto. Com meus olhos focando o copo estava desligado do mundo. Levei mais uma vez a taça de vinho até a boca e uma mão suave tocou meu ombro, virei o rosto rapidamente pensando ser Thais. Queria acreditar que ela tinha se arrependido do termino do namoro, queria acreditar que seria seu rosto aquele que veria ao me virar, mas não, me deparei com uma garota de cabelos negros, olhos castanhos, um sorriso encantador. Apesar de linda não era a Thais.
Com a mão direita sobre o balcão, e a esquerda depositada em meu ombro a garota ficou um longo minuto a espera da balconista, que paquerava um cara enquanto o servia no canto do balcão.
Tentei voltar minha atenção para o copo, não consegui. A mão gelada daquela garota sobre meu ombro suado me fazia tremer ainda mais. Olhei novamente procurando a balconista, e lá estava ela, toda derretida para um homem que julguei desconhecido.
Voltei a encher meu copo, e a arrastei pelo balcão em direção da garota ao meu lado. O copo acabou por esbarrar na mão que a jovem depositava no balcão, eu estava realmente bêbado, sem noção de espaço.
- Pode beber. Vinho doce para um doce de garota. – Sussurrei no ouvido da desconhecida.

Empurrando o copo de volta, a garota direcionou o corpo em minha direção, seu rosto estava colado ao meu, ela parecia me cheirar. Senti seus dentes mordiscar minha orelha quando ouvi sua voz doce dizer em meu ouvido:
- Amo vinho doce, mas apenas Cristine sabe a safra que realmente gosto.
Cristine era a balconista, mas aquela noite parecia estar ocupada, parecia não poder atender os demais clientes.  Várias pessoas estavam no balcão esperando por suas bebidas quando finalmente Cristine resolveu voltar a atender.
Ainda com a mão em meu ombro a misteriosa garota esticou o braço direito se debruçando sobre o balcão. A mais de dois metros Cristine percebeu a atitude da jovem e saiu caminhando para a adega.  Quando voltou estava com uma garrafa empoeirada e uma taça que aparentava ser cristal.
Enchendo a taça sem dizer uma palavra, Cristine cumprimentou a garota com um aceno de cabeça antes de voltar para adega levando a garrafa.
 Pegando a taça, a garota saiu do balcão. Sentou sozinha junto a uma mesinha onde degustava o tal vinho. Tentei me conter, não consegui. Fui caminhando até lá em passos tétricos, esbarrando em um e depois em outro. Sentei em uma cadeira do lado oposto da mesa. Ela apenas ergueu os olhos a me ver chegar, depois voltou a baixar os direcionando para taça.
- Sabia que viria. – Seus olhos me focaram. Bebeu mais um gole. – Vocês homens são previsíveis.
- Vim por que tive uma dúvida! – Falei enchendo uma taça de vinho. – Na verdade são duas.
- Não, eu não sou daqui. E prefiro não lhe dizer meu nome.
Incrivelmente eram as duas coisas que perguntaria, mas pensei serem perguntas previsíveis.
- Acho que devo levantar e voltar para o balcão. – Eu estava constrangido. Senti-me tapeado.
- Fique! O balcão está tumultuado. – Falou exibindo um sorriso contagiante. - Você estando aqui, ninguém vem me incomodar.
Finalmente reparei como aquela garota era linda, tinha cabelos negros que cobriam totalmente as costas, olhos castanhos, sua boca estava avermelhada pelo vinho. Sua pele branca se tornava ainda mais imponente pela maquiagem escura que contornava seus olhos.
- Laísa! Meu nome é Laísa. – Molhou os lábios com um gole de bebida – Moro em uma cidade próxima, mas freqüento o bar já faz um tempo.
-Tenho conhecidos aqui, acabei de sair de um relacionamento. -Respirei fundo ao ver a besteira que estava falando. Resolvi terminar. – Vão pensar que o relacionamento não significou nada, que já estou envolvido com uma desconhecida.
- Fique calmo garoto, se eles não nos vir se beijando. Vão deduzir que nada aconteceu, e que mesmo estando comigo, não teve coragem de me beijar.
- Isso que é estranho, eu quero te beijar! - Pareci confuso ao falar. – O relacionamento foi lindo, mas ela me trocou pelos estudos, sinal que realmente não fui nada para ela.
- Se quer algo deve fazer. Não pense em agradar o grande público, deve ser egoísta pensar em você.
Ela bebeu o último gole de seu vinho. Os olhos negros fitavam os meus, que não conseguir desviar do seu decote.
- Se quer muito uma coisa, deve fazer. Seja destemido, encare o mundo de frente.
Eu estava suando frio, com a pele fervendo. Fechei os olhos para refletir, quando senti meus lábios sendo tocados.
Tentei me envolver no beijo, mas na verdade ela estava com um dedo em minha boca, era o indicador, tocava meus lábios como pedisse silêncio.
Seu rosto encostou-se ao meu, sussurrou em meu ouvido:
- Vamos sair daqui, vamos onde ninguém pode nos ver.
Levantei devagar apoiando as mãos sobre a mesa. Me dirigi para junto da garota, tropiquei em uma cadeira, e quase cai sobre ela, ela me segurou nos braços, e foi me carregando devagar  a caminho da saída. Quando saímos caminhamos até meu carro, ou melhor, Laísa me carregou até ele. Dei a chave a ela, dizendo:
Me leve para onde quiser. Fui embarcado no banco do carona, ali apaguei.
Quando acordei o carro estava estacionado em meio a uma floresta.  Laísa estava junto ao carro, sentada no capo.  Levantei como pude e caminhei para junto dela, ao sentar no capo, vi que o olhar de Laísa estava triste. Comecei a acariciar seu rosto, e levei o meu para junto dele.
Nossos lábios se tocaram, sua boca tinha um gosto adocicado, mas nem um pouco parecido com vinho, nem chiclete, isso não importava. Ela ficou de pé e me puxou para junto dela, e voltamos a nos beijar.
Beijamos-nos por longos minutos naquele lugar deserto, suas mãos percorriam meu corpo, e as minhas o seu.
Sua pele era gelada, tentei acreditar que era pela fina garoa que caia sobre nós, foi quando senti a melhor sensação do mundo, até aquele momento.
Os dentes afiados de Laísa cravaram em meu pescoço, pude sentir que sugava minha jugular, não quis que parasse.  Acariciei suas costas me entregando em seus braços.
Naquele momento apaguei.
Acordei horas depois, já era dia claro.  Eu estava dentro de uma espécie de Caverna, um lugar úmido e sombrio. Comecei a revirar meus bolsos procurando a chave do carro, achei apenas um bilhete escrito com uma caligrafia perfeita.
Conteúdo do Bilhete
Já deve ter ouvido falar de vampiros, agora você é um.
Algumas lendas, são apenas lendas.
Outras são verdade.
Basta a você descobrir.
Favor não morra para isso.
P.S. Laísa
Sentado ali me senti mais vivo que nunca, Thais já estava caindo no esquecimento. Meu coração não pulsava mais, e eu precisava sobreviver. Não sei se “sobreviver” seria a palavra.
Talvez eu continue minha história...