quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Uma amostra de afeto

Dedicado a Liege Neuland, aquela que não tem medo.
O Pive do Orkut?  Foram as primeiras palavras que direcionou a mim, lembra?
Não é a melhor pessoa deste mundo, mas é alguém que me aconselha em momentos difíceis, mulher valente com rostinho de inocente.
Pessoa que me faz sentir o sexo frágil. Aquela que me chama de lage, quase todos os dias. Será que sou uma lage? (Risos)
Você está ai, me aturando há oito meses, nos vimos apenas três vezes? Os bolos foram quantos? Ah, deixa pra lá. Isso não importa.
Alguns momentos pensei, ”ela não está nem ai”, mas descobri que é seu jeito maluco de ser, eu curto você assim, eu curto sua companhia, na internet, e ainda mais em festas. Conselheira, amiga, simpática, faltam adjetivos.
A menina que me deixou sem imunidade de tanto me preocupar.
Foi um ano conturbado para nós dois, coisas boas coisas ruins, namoros e términos.  Mas de tudo que aconteceu, uma das melhores coisas foi te conhecer. Foi as viagens ao teu lado, e as que  eu fiz pois me incentivou.  Noites regadas a muito álcool,  com o tempo vemos quem vale a pena, aprendemos isso.
Orgulho em te ver bem, feliz ano novo. Que ano que vem tenha muitas outras noites alucinantes em sua companhia.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Mulher

Mulheres, loiras, morenas, ruivas, sou rodeado por mulheres. Esbarrando com uma ou em outra posso observar um olhar meigo, um sorriso cativante.
Mas ainda não achei mulher que mexesse comigo como você.
Os dias passam e nem reparo mais na beleza de quem me rodeia, vendo os olhos da menina mais linda, lembro como é doce tua voz, vendo o sorriso da mais singelo. Sinto falta do teu abraço.
No meu mundo só existe você, és a razão do meu viver.

sábado, 22 de outubro de 2011

Alguém especial



Hoje entrei em um bate papo, não queria mais fazer isso, e acabei por  fazer.
Sempre me julguei anormal, uma pessoa diferente, um modo de pensar oposto ao da maioria das pessoas.
Então resolvi entrar com o nick, ESTRANHO. O que mais li foi pessoas querendo saber o porquê eu era estranho.
A primeira vista todos me achariam normal, mas o problema é psicológico algo na minha personalidade. Enfim.
Eu sou diferente das pessoas ditas normais, das pessoas que curtem a vida e tão nem ai pra nada. Por mais que eu tente, acabo por voltar ao meu estado de tristeza. Mas não é disso que quero falar.
Quero falar de uma pessoa que conheci. Uma pessoa que tem a personalidade parecida com a minha, uma pessoa que escreve de uma forma parecida.
Acredite quem quiser, não levei fé quando vi o nick daquela garota que já me atrevo a chamar de amiga.
O nick dela era LoiraInteressante, imaginei ser uma pessoa totalmente diferente da que conheci.
Ela é sentimental, inteligente e tem um papo maravilhoso. Me entende muito bem, e parece pensar da mesma forma que eu.
Se hoje, duas horas depois de conhecê-la estou escrevendo isso. É uma forma de expor tamanha felicidade que sinto por conhecê-la.
E descobri. Podemos ser ambos estranhos diante a sociedade, mas nos compreendemos muito bem.
Um beijo enorme pra essa menina que hoje me fez um cara feliz.
" A menina com o maior coração que já vi."
Abraço a você que leu.

domingo, 16 de outubro de 2011

Pois é

Eu te invejo, e te invejo por ter um sonho e lutar. Eu nada sou, sou apenas mais um que um dia teve um blog. Jamais serei escritor, e nem sei porque escrevo. Não luto pelos meus sonhos nem luto por nada.  Muitos me disseram que Deus me deu um dom, espero morrer com ele. Eu cansei de querer impressionar  as pessoas, não to mais afim de escrever. Quem me conhece sabe que eu transmito essa forma poetica de escrever no dia-dia.  Eu escrevo assim para quem gosto e até pra quem eu odeio. Esse é meu jeito.  Talvez por dom ou por incistencia eu sou assim. Neste mundo, desejo o melhor a todos, e a mim tenho um unico desejo.  Ser feliz. Hoje eu não sou, nem escritor, nem feliz. Obrigado por doar seu tempo e ler isto.
( Não corrigi, e sim, sou realmente péssimo em gramatica.)
Isso eu escrevi para uma amiga no MSN, resolvi postar aqui.
Obrigado a todos que dedicaram seu tempo, e leram meus textos.
Talvez um dia eu volte a escrever, eu volte a postar.
Mas hoje, penso apenas que tenho que tentar ser feliz.
Um abraço enorme.

sábado, 1 de outubro de 2011

Em busca de companhia


A pior coisa de ser casado com uma Bióloga são as viagens a trabalho.
Dirigia meu carro lentamente pelas ruas do centro daquela imensa cidade, acreditava que seria apenas mais uma noite solitária. Por muitas vezes me perguntei o que Barbara estaria fazendo enquanto eu me masturbava folhando aquela velha revista pornô dos anos 90. O corpo da Barbara(minha esposa) não se comparava ao daquela jovem modelo da revista. Mas para mim era o mais lindo do mundo.
Passando diante da prefeitura vi aquela linda morena, caminhava de um lado para o outro parecendo atordoada. No primeiro olhar já decidi o que deveria fazer, eu dormiria acompanhado. Mesmo que tivesse que pagar por isso.
Estacionando o carro ao lado da calçada, abri o vidro do carona dando uma leve buzinada. Quando vi que caminhava em minha direção já gritei:
- Vamos pra onde meu amor?- Sinceramente não sabia como contratar os serviços de uma prostituta. - Vamos dar uma voltinha?
Caminhando devagar no alto do seu salto, veio até mim. Escorada na janela, fitou meus olhos:
-Pra onde quiser meu bem. Dou preferência para um lugar bem longe daqui.
- Gostaria de dormir acompanhado hoje, custa caro? – Minha voz passava um ar de vergonha.
- Depende o que o senhor quer, o preço varia de 50 a 200 reais, tudo depende do que faremos, do tempo que ficaremos juntos. – Ela falava tranqüilo como quem me oferecia um produto qualquer em um balcão de loja.
- Não tenho planos e desejos. Apenas sexo, o que rolar rolou!- Tentei parecer indiferente quanto ao valor.
- Tudo bem amor, podemos ir então.
Sorrindo embarcou lentamente no carro sua pele bronzeada me levou ao delírio ali mesmo.
Dirigindo sem mesmo prestar real atenção na estrada, fui para um motel que conhecia à beira da rodovia que saia da cidade. Sentada no banco do carona a jovem apenas fitava o rádio com os olhos.
-Quer colocar uma música? Fique a vontade!- Meus olhos fitavam o decote da jovem, quando ela se esticou para ligar o radio. –Tem CDs no porta-luvas!
Minutos depois chegamos ao motel, na recepção pedi por um pernoite, a garota sorriu triunfante para a recepcionista. Como quem dissesse. “Eu amo esse homem”.
Peguei uma suíte, não era a mais luxuosa do motel, mas não era nada simples. Em meus pensamentos tentei lembrar a última vez que fui a um motel com a Barbara.
- Qual o seu nome amor? – Seus lábios se esticavam em um sorriso triunfante. – Você tem cara de Mauricio!
Subimos as escadas abraçados como um casal apaixonado.
- Marcelo!- Respondi sorrindo.
- Ahh, que burra eu sou, vi teu nome nos documentos do carro quando peguei um Cd no porta-luvas, mas jurei ter lido Mauricio.
Aquela garota não parecia uma prostituta igual as que eu vi, e ouvi falar. Ela parecia inteligente e simpática demais.
Quando entrei, vi que tinha preservativos sobre a cama. Fiquei feliz ao ver, pois eu não tinha comigo.
Sentei na cama, ela foi chegando sobre mim, quando seus lábios tocaram os meus, veio a mim uma repulsa como que por espontânea. Eu a empurrei.
- Não quer beijo. – Ela sorriu torto. – Eu entendo.
-Desculpe, eu não consigo. – Muito nervoso eu tremia. – Sou casado, nunca trai. Amo minha esposa. Isso foi um erro!
- Calma amor, eu posso ir com calma. – Sussurrando em meu ouvido ela foi subindo as mãos em minhas costas em busca de tirar minha camiseta.
- Pare, por favor, isso é errado! – Sua pele quente sobre meu peito já nu me causava arrepios.
- Ok, me desculpe. – Sacudindo a cabeça já não parecia a mesma. – Quer me levar embora então? Te cobro o preço mínimo! Eu te entendo. Já me afastei de pessoas que amo, por erros menores que esse.
- Qual foi teu erro? – Uma curiosidade enorme caiu sobre mim.
- Abandonei minha família no interior para tentar a vida na capital, por ser inteligente achei que entraria logo em uma boa universidade pública. Enganei-me. Arrumei emprego aqui na cidade, fui morar com uma garota que nem conhecia. – O olhar da jovem era triste, mostrava um arrependimento enorme. – A Garota com quem morava é uma striper, demorei dias para descobrir. Literalmente ela leva o trabalho pra casa. Com ela conheci a cocaína.
- Desculpe, noto que se sente mal. Se quiser pode deixar, eu perguntei por impulso. – Eu a interrompi, pois notei ser nada bonita a história de vida que tinha pra me contar.
- É bom desabafar. – Secando as primeiras lagrimas que corria pelo seu rosto ela continuou. – Comecei a cheirar por carência, a droga me transportava para outra realidade. Por passar boa parte do tempo chapada, fui demitida do meu emprego por ter muitas faltas. Resolvi seguir minha vida, tentar viver sem drogas. Me afastei daquela amiga, aluguei um apartamento e fui morar sozinha. Uma semana sem emprego e já tinha cheirado meu fundo de garantia todo.
Notei que já estava inteiramente jogada nas drogas. Em dias eu estava nas ruas vendendo meu corpo. E aqui estou. Acredito que nunca farei faculdade, nunca serei realmente feliz. Serei apenas uma mancha nas ruas desta cidade.
Eu não sabia o que fazer, resolvi fazer o que era certo para mim.
- Fico triste pela sua história. – Respirei fundo e completei – Pagarei o taxi para você ir embora, eu tenho que chegar logo em casa. Quanto eu te devo?
- Deixa só os 50 reais, eu pago o taxi. - Sacando o telefone da sua bolsa, ela ligou para alguém que acredito que seja o taxista. Tapando microfone do telefone falou. – Se não se importa vou tomar um banho! Eu preciso continuar o trabalho, a noite está só no inicio.
- Vou deixar pago o motel, vou pagar a noite toda, se quiser pode ficar aqui. Aviso na recepção.
- Tá bom. Vou tomar um banho e já vou. – Virando as costas foi falando no telefone – Oi, sou eu mesma, me busca aqui no motel da rodovia? Sim sim, eu espero.
- Tchau. -Foi só o que eu falei.
Deixei cem reais sobre o frigobar, desci as escadas devagar. Peguei meu carro e dirigi para casa ouvindo o Cd que estava dentro do radio. Segundos depois notei que era o cd que havia ganhado de aniversario da minha esposa.
Cheguei em casa atordoado, uma luz verde da secretaria eletrônica piscava sobre a escrivaninha do canto da sala. Apertei o botão e ouvi uma mensagem que apenas dizia. ’’ Te amo meu bem, retorne’’.
Ligando para a Barbara descobri que ela estará de volta para o almoço. Mania dela de não ligar para o meu celular.
Relatei estes fatos em um texto, pois estou sem sono. Arrependo-me do que fiz. Mas o que mais me intriga são as perguntas que não querem calar. Onde estará a jovem prostituta? Será que retornarei a ver? O que já não deve ter suportado aquela jovem?

domingo, 4 de setembro de 2011

Amando em silêncio


Estranho como admirava a beleza daquela garota, nos corredores da escola ela se tornava totalmente visível, não usava roupas extravagantes, era apenas um borrão em meio ao pessoal. Mas para mim, ela era a mais perfeita dentre tantas. Éramos ambos do 2º ano, mas de classes diferentes, eu apenas a via durante o recreio e algumas vezes antes de começar a aula. Jamais há encontrei fora da escola.
 Sentada no chão do corredor com o ipod em punhos se desligava do mundo ao seu redor. Na manhã em que conversamos pela primeira vez, ela estava usando coturno, calça jeans, além de uma camiseta dos RAMONES.
 Por tantas vezes cruzei por ela no corredor, e em tantas outras ficava imaginando a música que estava escutando.
 Parece idiota, mas sonhava ser como ela, ter coragem de gritar ao mundo foda-se. Nosso      primeiro contato foi dentro da biblioteca. Eu estava sentado lendo e ela simplesmente ao passar virou o livro de modo que pudesse ver a capa.
 -Menina que roubava livros, é uma boa história. - comentou ao me fitar com o olhar.
 -Sim, retrata bem a Alemanha nazista. – Não sabia como me portar diante do seu rosto maquiado.
 - Hitler foi um grande líder, mas infelizmente suas idéias eram tolas. Formar um mundo de arianos não adiantaria, o problema desse mundo são os alienados.
 Sua voz era doce, seus coturnos estalavam no piso a caminho das estantes.
 Por muito tempo não saiu da minha cabeça aquele final de frase, “o problema do mundo são os alienados.”.  Vindo dela foi como um ateu pedindo para eu ir à igreja, na minha percepção ela era a pessoa mais alienada que eu já vira, perdendo apenas para mim próprio. Ela ficava sempre ali com seu fone, ou lendo. Era um ser completamente anti-social, como podia chamar alguém de alienado. Resolvi que deveria achar maneiras de me aproximar.
 Depois de dias cheguei à conclusão que ela tinha segredos, que não era apenas aquele ser melancólico jogado no corredor, eu queria descobrir mais sobre ela.
 O ano já estava no fim, e todas as informações que eu tinha eram que curtia Ramones, Pitty, Evanescence, e mais algumas bandas. As férias chegariam e eu não a veria mais. E assim foi.
 Nas férias cada dia era uma eternidade. A maior parte do tempo fiquei em casa escutando as músicas que imaginava que ela gostava e pensando como faria para desvendar seus mistérios. Não tinha o que eu fazer, apenas sentar e esperar os dias passar.
 Em um dia nublado próximo ao fim das férias, sentado na sacada da minha casa, lendo o livro que havia ganhado de natal, podia ver o mundo que todos julgavam ser um mundo perfeito. Aquela velha senhora passeado com seu cachorro.
 - Ah se ela soubesse o que o marido faz enquanto diz que está no trabalho.– Sussurrei baixinho.
 E aqueles garotos aos berros enquanto jogam videogame na casa da frente.
 -Um dia saberão que jogar videogame não é a melhor coisa deste mundo.– Me vi aos risos ali sentado.
 Perdi-me em devaneios olhando a movimentação da rua e adormeci. Quando acordei já estava escuro, o sereno já havia molhado minha pele e minha mãe esmurrava a porta do meu quarto.
 - Carlos, ta ai?- pude notar a seriedade em sua voz- Desce agora pra jantar.
 - Já vou mãe!- gritei ainda acordando.
 Quando levantei me deparei com um pequeno avião de papel jogado em meus pés. Era um avião perfeitamente dobrado, tinha algo escrito.
Desdobrando rapidamente li as palavras que estavam escritas em uma caligrafia quase perfeita.
“Oi garoto leitor, livro novo? Espero que tenha acabado o último.”
 Logo pensei na misteriosa, só poderia ter sido ela que havia me enviado tal recado. Desci as escadas correndo, sentei-me à mesa e fui logo devorando o que via em minha frente.
 - Vai se engasgar- Pude ouvir meu pai.
 Não dei atenção, terminei de comer e subi as escadas correndo. Cheguei ao quarto e novamente peguei pra ler o bilhete que em um momento foi um avião.
 Em minha cabeça projetava o rosto da garota que por dias não havia visto.
 -Ela passou aqui, me viu dormindo com o livro em mãos. Será que ela notou que estava dormindo. Com certeza sim. Burro burro burro- Sussurei ao acariciar aquele papel que acreditava ser da minha amada misteriosa.
 Nos dias seguintes fiquei observando da sacada do meu quarto. E não vi  nada além do pacato cotidiano, vizinhos que cumprimentavam, crianças que corriam pelos jardins.  Os dias passaram e as férias foram acabando.
 No último dia das férias minha mãe subiu as escadas enquanto estava deitado em minha cama ouvindo música.
 - Carlos, abre a porta. Chegou uma carta para você. – Levantei calmamente, pois imaginava ser apenas propaganda ou algo assim. – O mais estranho é que não tem remetente e nem selo. Tá apenas escrito em caneta – minha mãe fez um silêncio- para Carlos, vírgula, o leitor da rua.
 Abri a porta rapidamente, peguei a carta e fui logo rasgando para abrir.
 “Sei que deve estar curioso, eu também estaria. Amanhã na escola talvez eu me revele para você. Talvez não. Sou tímida. Queria ser um livro para sempre estar entre seus dedos.”
 Tremia ao ler tal carta. Não consegui dormir naquela noite. Estava ansioso demais para descansar. Reorganizei meus materiais muitas vezes. Já se passava das duas da madrugada quando deitei. Não preguei o olho um segundo.
 Eu odiava o primeiro dia de aula, aqueles jogos de integração e as fofocas sobre as viagens e festas... A escola quer formar adultos e acaba por fazer um regresso ao jardim de infância no primeiro dia letivo. Uma tremenda tolice em minha opinião.
 Aquele dia não foi diferente, mas algo novo despertou a minha atenção.
 Sentada em um canto da sala estava a tal garota. Com uma camiseta desbotada do Nirvana, uma calça Jens, e um All star preto. Permaneceu calada todo o 1º período.
 Eu do outro lado da sala tentava me manter calado, observei que ela me olhou algumas vezes. Mas eu não conseguia parar de olhar.
 No inicio do segundo período o velho professor de História fazia a chamada quando ouvi a única palavra que ela pronunciou até aquele momento. O professor ergueu os olhos sobre a turma quando disse em um ar desanimado:
- Franciele?
 Erguendo a cabeça ela apenas disse:
 -Aqui! -Continuou a fazer o que estava fazendo, vendo de longe eu acreditava ser um desenho.
 Os períodos passaram um após o outro. E não ouvi mais nenhuma palavra de seus belos lábios.
Durante o recreio a sala permaneceu aberta. A Franciele continuou ali sentada rabiscando algo em seu caderno.
 Resolvi tomar uma atitude, vou caminhar até lá e vou ver a letra dela. Levantei e fui a passos tétricos até a mesa dela. Parei diante de sua classe fitando o caderno com os olhos.
 - E ai?- Pude ouvir. Ela não ergueu os olhos para me perguntar.
 Pensei: é a timidez.
 - Me chamo Carlos. -falei entre os dentes.
 - Eu Franciele, gostou do desenho?
 -Sim gostei- respondi- Você costuma passar na minha casa?
 -Nem sei onde você mora!- falou rindo- Acho que está se confundindo.
 - Não foi você que me mandou a carta? O aviãozinho?
 - Desculpe rapaz, não sei nem seu nome.
 Neste momento o barulho de uma classe sendo arrastada calou ambos.                                                   Pude ver Juliana, levantando rapidamente e correndo porta afora aos prantos.
- Ou caiu um cisco no olho daquela menina, ou você descobriu quem é que te mandou os bilhetes. - Franciele respirou fundo – Nem te conheço, você para mim é apenas mais um nessa sociedade medíocre. Notei que passou a manhã me olhando, me desculpe, você não faz meu tipo. Cresça e apareça. Agora saia daqui, você me causa náuseas. Garoto idiota!
 - Desculpe- foi só o que falei. Suas palavras ecoavam em minha cabeça.
Depois daquele dia mudei meus conceitos sobre a menina rebelde que descobri se chamar Franciele.
Juliana não voltou para sala de aula naquela manhã, naquela tarde recebi uma nova carta.
 “Fui tola em não me identificar, não falar o que sinto, mas o que sinto não é de hoje. Muitas vezes te vi lendo na biblioteca, e passei reto sem nem ao menos dizer uma palavra. Foram muitas as vezes que você estava na sacada e eu apenas olhei, sem nem ao menos dizer uma palavra.
Espero que seja feliz com a Franciele.
Abro mão da minha felicidade pela sua.”
 Na manhã seguinte descobri através de colegas que Juliana tinha mudado de escola. Estaria estudando em outro bairro só para não ver mais meu rosto.
 Nunca mais senti nada pela Franciele, o único sentimento que habitava meu coração era o de pena. Pena da Juliana, que abriu mão de seus amigos, deixou sua escola por causa de um amor não correspondido.  E hoje acabo por sentir pena da Franciele, que com toda sua inteligência, e essência de superioridade fica isolada do resto da turma.

Pensamento que não quer calar

Pode ter ficado ruim, pode ser o meu pior texto. Esse realmente é um texto pessoal

Pra mim é fácil escrever um conto, é fácil escrever uma história de seres fictícios cheios de aventuras, uma história que emociona. Uma história que faz o leitor viajar entre as palavras.
O que é difícil, é viver o cotidiano.
Quando eu estudava, era por obrigação. Meus pais me obrigavam. Eu, por minha vez, só freqüentava a escola e estudava com o objetivo de terminar aquilo tudo de uma vez.
No ano de 2007(ano seguinte ao término do ensino médio), já estava arrependido de não ter estudado mais, não estar capacitado para prestar vestibular em uma faculdade pública, ou prestar Enem e conseguir uma bolsa através do Pro Uni. Naquele momento tinha notado que queria ser algo mais que um mero operário em uma empresa. Apenas mais um diante dezenas.
Hoje dia 4 de setembro de 2011, aqui estou eu, falta uma semana para o meu aniversário, farei 22 anos. Já se passaram quase cinco anos que terminei o ensino médio, e ainda não sei que carreira seguir. Continuo sendo um mero operário, não tenho vergonha disso. Porém quero mais para meu futuro.
Muitas pessoas, na grande maioria amigos, inclusive uma escritora que admiro muito (Susy Ramone http://susyramone.blogspot.com/), pediram para que eu seguisse escrevendo, tentasse carreira como escritor.
Foi em 2007, enquanto tentava impressionar uma garota que acabará de conhecer que escrevi meu primeiro conto. Dias depois fiz meu primeiro blog, hoje ele deve ser apenas mais um na internet assim como esse.
A garota é a Caroline. (Princess Vampire como se denominava na época).  Com ela, pra ela escrevi meus primeiros contos. De nada adiantou levando em conta a conquista. Descobri uma paixão, a escrita.
Caroline despertou algo em mim, a vontade de escrever. Eu muito egoísta escrevia mais em busca de amizades, postava meus contos em comunidades do Orkut. Assim conseguia um contato ou outro para minha lista de amigos.
Hoje meu objetivo na escrita não é esse. Hoje escrevo para passar aprendizados que tive com a vida ou apenas passar para as pessoas histórias que surgem em minha cabeça. Minha única expectativa é opinião das pessoas sobre o que escrevi. Não busco amigos e sim opiniões.
Este blog já teve mais de 5500 visitas, sei que é um número pequeno. Mas diante deste número me pergunto.
Quem foram as pessoas que leram meus contos? Qual a opinião alheia sobre eles?
Algumas pessoas já disseram o que acham através de comentários, outros me disseram no MSN.
Hoje aqui sentado, escrevendo este texto, me pergunto. Será que é isso que devo fazer? Devo continuar escrever e quem sabe um dia escrever um livro ou algo do gênero?
Comecei a escrever este pequeno texto, em busca de demonstrar a angustia de querer seguir uma carreira, sem saber qual seguir,angustia de não se achar no meio da sociedade. Mas acabei escrevendo um pouco de mim, sobre como comecei a escrever.
Adoro escrever contos, coloco parte de minha personalidade neles. Gostaria que através de comentários, que todos aqueles que estão lendo esse texto expressassem sua opinião sobre o que escrevo.
Se devo continuar a escrever ou apenas devo desistir?
Faço essa pergunta, pois penso em um dia levar a escrita como carreira. E mesmo com todo o apoio que já tive ainda tenho duvidas se sou bom o bastante.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Vodka sem gelo



Por favor, antes de ler este conto leia Vinho doce, pois de certa forma está é uma continuação.

 Anos que não sei o que é ter uma casa, viajo o país à trabalho. Meu nome é Natanael, já estou velho para o que faço, mas não conheço ninguém que faça isso por aqui.
Já passava das 22h30min, sai do banheiro daquela pequena pousada nu com a toalha sobre o ombro.
Sobre a cama ainda arrumada catei a camiseta do AC/DC já desbotada, e a calça Jens que ali repousava. Sentei na cama para calçar os coturnos, os velhos coturnos que me traziam lembranças do exercito.
Levantei da cama, e logo vesti o sobretudo que estava colocado ao lado do travesseiro.  
Devidamente vestido, juntei meus pertences e minha mochila.tranquei a porta ao sair.
Caminhei lentamente pelo corredor a caminho da recepção.
Chegando à recepção, larguei as chaves e acompanhadas por algumas notas, sabia que era mais que o valor das duas diárias, mas não queria papo com aquele velho.
- Meu filho. Tem dinheiro demais! – Pude ouvir o velho gritar enquanto saia com meu carro pela pequena estrada.
Eu dirigia um Opala ano 1976, 6cilindros. Posso dizer que era o carro perfeito para mim. Claro fiz algumas modificações.
Voltei para o bar no qual estava na noite anterior, o bar estava vazio. Fui direto ao balcão e pedi uma vodka sem gelo, ao me servir a garçonete sussurrou em meu ouvido:
- Calma, ela está vindo.  Faz dois meses que ela vem toda noite.
- Sim Cristine, eu tenho a noite toda.
Minutos depois pedi mais uma dose de vodka, ao me servir Cristine falou:
- Olha quem está entrando. Sempre desacompanhada.
- Ela não estava com um cara ontem? Foi o motivo que não pude me aproximar. – Eu estava confuso, temia encontrá-la acompanhada.
Sentada em um canto do bar aquela garota poderia seduzir qualquer homem com o olhar, mas ficava sozinha bebendo uma taça de algo que parecia vinho.
Bebi rapidamente o resto de minha vodka e caminhei até lá.
- Você não é da cidade, certo?
- Não, nem você.  Aquele Opala com placas de São Paulo, eu garanto que é seu!
- Sim é. Foi do meu pai.
- É um belo carro. Adoraria sentir a força do motor. – Falou sussurrando em minha orelha. Pude sentir seu hálito gelado em meu pescoço.
Naquele momento vi entrar, o garoto que estava com ela na noite anterior.  Por mais que ela fingia não conhecer, ele não tirava o olho dela.
Por muito tempo fiquei ali, conversando e bebendo, ao todo bebi cinco doses, três delas batizadas.
A cada gole que eu bebia parecia mais bêbado, e a garota demonstrava mais e mais interesse.
Mordiscava minha orelha, sussurrava coisas excitantes. Eu ali me deixando levar.
O jovem permaneceu sentado junto ao balcão por todo tempo, bebia vinho como na noite anterior. Mas desta vez em uma taça.
Já eram quase cinco da manhã, levantei estiquei o braço para despedir.
- A noite aqui está acabando, poderíamos para um lugar mais calmo. – Sua voz era doce, mas seu hálito exalava cheiro de sangue.
Percebi o vinho que ambos bebiam. Por isso Cristine tinha certeza que ela voltaria.
- Quer que eu dirija gato? Parece que você não está em condições.
- Minha máquina quem dirige sou eu. Desculpa, estou bem.
Arranquei o Opala dirigindo em sentido contrario ao da cidade, cada vez mais para o alto das montanhas.
Em uma pequena entrada, estacionei. Naquele lugar podíamos ver varias cidades, a vista se tornava mais linda em meio à noite.
Desembarquei caminhando para frente do carro, que estava apontada em direção ao barranco.
Em um segundo, a garota que se disse chamar Laísa estava junto a mim, apreciando aquela linda visão.
Eu me virei de frente para ela a sentando sobre o capo do carro, mexia em seu cabelo tentando fazer com que ela se desligasse do mundo. Sempre mantendo meu rosto afastado do dela, o cheiro de sangue me causava repulsa.
Ela fechou os olhos e começo a puxar meu corpo para junto do dela, seus lábios se encaminharam para os meus. Beijou-me devagar, até que:
 - Água benta...
Com apenas um golpe penetrei uma estaca em seu pescoço, descendo pela direita em diagonal, para esquerda. Me joguei para trás afastando meu pescoço, e procurando uma maneira de acertar seu coração com um segundo golpe.
Meu corpo foi jogado para longe por um segundo vampiro que me puxou afastando dela.
-Laísa Laísa acorde. – Pude ouvir o jovem vampiro balbuciar.
-Me tire daqui, o sol vai nascer. E você é inexperiente em lutas, não sabe controlar suas habilidades. -Pude ouvir a voz doce que agora não passava de gemidos.
O jovem com aparência de vinte e poucos anos carregou Laísa nos braços e correu velozmente para o meio da mata.
Por mas experiente que eu fosse em caçadas, era arriscado lutar com dois vampiros. Além do mais eu era um Mercenário, meu trabalho ali estava cumprido. O pagamento seria depositado na noite seguinte, com a ausência de Laísa no bar. Cristine estaria satisfeita até descobrir a existência de um segundo sanguessuga. Isso se já não tivesse percebido.
Desci as montanhas a mais de 100 km/h, minutos antes de chegar à cidade notei estar sendo seguido, vultos me acompanhavam pela mata lateral da estrada.
Os primeiros raios de sol começaram a surgir quando notei não estar mais sendo perseguido, o jovem vampiro devia ter voltado para tentar salvar Laísa.
 Oh merda! - Esmurrei o volante várias vezes.Segui meu caminho, temendo ser a caça.

domingo, 2 de janeiro de 2011

O conteúdo da FITA TAPE


Deitado na cama as horas não passam. Lembranças de minha infância fluem vagarosamente, como água em uma vertente.  Era tão lindo cavalgar pelos campos do sítio para recolher as vacas, comer os quitutes que minha mãe preparava. Aqui cavalgo pelos corredores em minha cadeira de rodas, ando vagarosamente até a janela onde espero meus familiares.
Quando tinha nove anos prensei minha mão em um debulhador de milho, era um aparelho manual, movido por manivela. Felizmente não perdi nenhum dedo, mas o anelar e o mindinho ficaram tortos.  Foi curado com banha de porco e mais algumas ervas que não recordo, o ferimento foi fundo.
Mesmo com a mão enfaixada continuei fazer as coisas do meu cotidiano, pois era o filho mais velho e deveria ajudar meu pai na lida. Em um mês a ferida já estava curada, e eu podia trabalhar como antes.
Morei no sitio até meus doze anos depois mudamos para cidade. Minha irmã mais nova tinha problemas de saúde, não podíamos levá-la toda vez de carroça até o médico que ficava a mais de 10 quilômetros. Meu pai acabou por vender o sitio e todos os animais juntos.
Não me adaptei com a mudança.
Durante alguns dias fiquei sem sair de casa, apreciava pela janela cada vez que via um cavalo. Não entendia como as crianças podiam ser felizes naquela cidade de pedra.
Pouco antes de completar treze anos, comecei trabalhar em uma olaria. Carregar barro, empilhar tijolo, esse era o meu dia-dia sem nem pensar em estudar ou dizer para os meus pais que estava cansado.
Enquanto trabalhava podia ver os garotos ricos caminhando com as garotas, subindo e descendo a rua. Eu só pensava, meu destino será traçado por mim.
Com quinze anos eu já freqüentava bailes, logo arrumei inimigos. Eu apesar de pobre gostava um fandango, uma peleia.O mundo estava em guerra. O Nazismo estava sendo derrotado.
Larguei o emprego na olaria para tentar o serviço militar, fui dispensado por ter os dedos tortos, apenas por isso. Já tinha dezoito anos, precisava de dinheiro e o exercito não me queria, com muita insistência dos patrões voltei para a olaria. No ano seguinte voltei a tentar o serviço militar, e mais uma vez fui dispensado. Depois da segunda frustração no exercito resolvi que realmente era o dono do meu destino.
Eu tinha apenas dezenove anos, deixei meus pais na pequena cidade de Sapiranga e fui rumo à capital. Morei como pensionista em uma pousada de Porto Alegre e logo consegui emprego em um armazém, vez ou outra visitava meus pais.
"Calma garoto! Eu tenho que tomar meus remédios, a Enfermeira está chegando!"
Garoto, esta é minha filha, esposa, minha família. Ela e a Juliana, que é a enfermeira do turno da noite, são as pessoas que ainda olham por mim.
“Um tlec onde o tape foi pausado.”
“Um chiado, e a voz recomeça.”
Onde estávamos? Ah sim, eu não vi meus pais envelhecer, estava muito ocupado para isso.
Quando tinha vinte, levei minha namorada para os meus pais conhecer. Minha mãe não aprovou, pois aquela era uma garota da cidade grande. Minha vida era tomada por decisões alheias, aquela era minha. Não ia largar minha amada para agradar meus pais.
Logo quando completei vinte e um, assumi sociedade no Armazém e o tornamos um pequeno mercado. Comprei uma picape Chevrolet  para poder transportar os produtos do atacado para o mercado sem pagar frete.
O tempo passou e a Helga engravidou, tive que lutar muito para juntar dinheiro e poder casar. O pai dela me matava se eu não casasse.
Casei em junho de 1949. Lembro como hoje, a Helga estava linda a barriga apontando no vestido. Muitos nos condenaram por que ela casou grávida, eu nem me importei com opiniões alheias queria ser feliz.
A Helga era linda, cabelos loiros longos e pele clarinha como a neve.
Quando meu filho nasceu, foi o dia mais lindo de minha vida, nem comparado ao casamento. Diferente do meu, o parto do nosso filho foi feito em um hospital. Nasceu um lindo menino, olhos azuis como os da mãe, mas com o cabelo mais escuro como o meu. Seu nome era Antônio.
“Um suspiro forte chiou o alto-falante”
Infelizmente, meu casamento terminou poucos anos depois.  Eu trabalhava duro até tarde da noite, de segunda a segunda. Pensava em comprar a parte do meu sócio no Mercado.
No fim do segundo ano do meu casamento, lá por maio de 1951 me tornei dono do mercado. Comprei a parte do seu Zé avista, sabia que ele queria se aposenta e comprei a parte dele avista.
Eu estava extremamente feliz com a aquisição, a Helga não. Eu já não tinha mais tempo para a família era só trabalho e trabalho. Pensava em dar um bom futuro para o nosso garoto.
Era final de 1952, quando Helga me abandonou dizendo que voltaria para a casa de seus pais, e levaria Antônio com ela. Eu aceitei, com muito sofrimento aceitei.  Não demorou muito para ela achar um novo marido, afinal, mesmo com filho ela era linda.
A minha vida se destroçou, mesmo tendo a casa, o mercado, aparentava que eu não tinha nada. Pagava uma gorda pensão para o nosso filho e vivia sozinho. Boa parte do que ganhava gastava em prostibulos, ou em boates, ou praticando meu maior Hobby, a troca de carro. Fui levando minha vida solitária, e sempre bem acompanhado.
Casei novamente, em 1972. Na verdade não foi um casamento, trouxe uma garota para morar comigo.  Ela era vinte anos mais nova que eu. Isso não importava, ela apenas cuidava da casa, e de mim na cama. E eu cuidava de arrumar nosso sustento. A Lurdez era ótima na cozinha, e melhor na cama, nosso relacionamento durou quase quinze anos.
Triste foi no quarto ano de casamento quando descobri que ela não poderia ter filho, chorei muito. Pois meu primogênito nem se quer me chamava de pai, e agora não poderia ter outro, não com ela. Quando terminei o relacionamento, eu estava com 60 anos, e ela com apenas 40. Acredito que eu não dava mais no couro, não como ela queria. Resolvi eu tomar a iniciativa de terminar, pois vi que ela estava insatisfeita.
Os anos voltaram a passar depressa,  1995 abandonei o mercado. Tentei presentear meu filho dando- lhe de presente, pois era um ótimo ponto. Mas ele disse ter uma boa carreira, que sua mãe soube administrar a pensão, e garantir bons estudos. Disse também que não largaria tudo pela vontade de um velho gaga... Sim garoto, ele me chamou de velho gaga.
Acabei por vender o mercado, com o dinheiro comprei dois apartamentos que coloquei para alugar e ainda sobrou uma graninha. Fui pego desprevenido, pela hipertensão, por reumatismos. Fui parar entrevado em uma cama, pelas doenças.
Durante algum tempo paguei uma mulher para cuidar de mim, mas era ruim pois quase toda semana tinha que ir ao hospital. Lá no hospital uma enfermeira, me perguntou:
- Vozinho, tu não se sentiria melhor em uma cliníca, em um asilo, onde terá a companhia de outros idosos. – A voz se tornou mais doce, tentando parecer feminina.
Demorou mais aceitei a idéia, faz cinco anos que estou aqui. Meu filho me visita só no natal e no meu aniversário. Já sou bisavô, tenho dois netos e quatro bisnetos. Se hoje eu os enxergar, nem reconheço.
Meu  jovem desculpe me emocionar, mais já estou velho. E não tenho ninguém. Felizmente alguns jovens fazem trabalho comunitário e vem nos visitar. Mas como te falei, minha família é a Juliana, e a Tamara, As duas enfermeiras.
“toc toc” batidas na porta.
Garoto você deve sair, O senhor Anselmo deve dormir.
“tlec” O gravador sendo desligado.
Este é o conteúdo de uma fita tape que gravei em 2005 para um trabalho de escola.
Depois daquele dia, visitei o senhor Anselmo mais quatro vezes, três no asilo e uma em seu enterro.  
Resolvi públicar o conteúdo da fita em memória do senhor que me ensinou muito.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Vinho doce


Prefiro me manter anônimo, pelo menos por enquanto. Vão notar neste conto a ausência do meu nome, em um futuro próximo o ouvirão, talvez até cansem de ouvi-lo.
Sentado junto ao balcão, minha companhia era uma garrafa de vinho, era a terceira da noite. O mundo ao meu redor estava girando, eu não estava nem ai. Quando se perde um grande amor o mundo pode girar, sacudir, ou até mesmo explodir. Pois tudo que te interessa são aquelas velhas lembranças do amor que agora se foi.
Meu corpo tremia, o suor escorria pelo meu rosto. Com meus olhos focando o copo estava desligado do mundo. Levei mais uma vez a taça de vinho até a boca e uma mão suave tocou meu ombro, virei o rosto rapidamente pensando ser Thais. Queria acreditar que ela tinha se arrependido do termino do namoro, queria acreditar que seria seu rosto aquele que veria ao me virar, mas não, me deparei com uma garota de cabelos negros, olhos castanhos, um sorriso encantador. Apesar de linda não era a Thais.
Com a mão direita sobre o balcão, e a esquerda depositada em meu ombro a garota ficou um longo minuto a espera da balconista, que paquerava um cara enquanto o servia no canto do balcão.
Tentei voltar minha atenção para o copo, não consegui. A mão gelada daquela garota sobre meu ombro suado me fazia tremer ainda mais. Olhei novamente procurando a balconista, e lá estava ela, toda derretida para um homem que julguei desconhecido.
Voltei a encher meu copo, e a arrastei pelo balcão em direção da garota ao meu lado. O copo acabou por esbarrar na mão que a jovem depositava no balcão, eu estava realmente bêbado, sem noção de espaço.
- Pode beber. Vinho doce para um doce de garota. – Sussurrei no ouvido da desconhecida.

Empurrando o copo de volta, a garota direcionou o corpo em minha direção, seu rosto estava colado ao meu, ela parecia me cheirar. Senti seus dentes mordiscar minha orelha quando ouvi sua voz doce dizer em meu ouvido:
- Amo vinho doce, mas apenas Cristine sabe a safra que realmente gosto.
Cristine era a balconista, mas aquela noite parecia estar ocupada, parecia não poder atender os demais clientes.  Várias pessoas estavam no balcão esperando por suas bebidas quando finalmente Cristine resolveu voltar a atender.
Ainda com a mão em meu ombro a misteriosa garota esticou o braço direito se debruçando sobre o balcão. A mais de dois metros Cristine percebeu a atitude da jovem e saiu caminhando para a adega.  Quando voltou estava com uma garrafa empoeirada e uma taça que aparentava ser cristal.
Enchendo a taça sem dizer uma palavra, Cristine cumprimentou a garota com um aceno de cabeça antes de voltar para adega levando a garrafa.
 Pegando a taça, a garota saiu do balcão. Sentou sozinha junto a uma mesinha onde degustava o tal vinho. Tentei me conter, não consegui. Fui caminhando até lá em passos tétricos, esbarrando em um e depois em outro. Sentei em uma cadeira do lado oposto da mesa. Ela apenas ergueu os olhos a me ver chegar, depois voltou a baixar os direcionando para taça.
- Sabia que viria. – Seus olhos me focaram. Bebeu mais um gole. – Vocês homens são previsíveis.
- Vim por que tive uma dúvida! – Falei enchendo uma taça de vinho. – Na verdade são duas.
- Não, eu não sou daqui. E prefiro não lhe dizer meu nome.
Incrivelmente eram as duas coisas que perguntaria, mas pensei serem perguntas previsíveis.
- Acho que devo levantar e voltar para o balcão. – Eu estava constrangido. Senti-me tapeado.
- Fique! O balcão está tumultuado. – Falou exibindo um sorriso contagiante. - Você estando aqui, ninguém vem me incomodar.
Finalmente reparei como aquela garota era linda, tinha cabelos negros que cobriam totalmente as costas, olhos castanhos, sua boca estava avermelhada pelo vinho. Sua pele branca se tornava ainda mais imponente pela maquiagem escura que contornava seus olhos.
- Laísa! Meu nome é Laísa. – Molhou os lábios com um gole de bebida – Moro em uma cidade próxima, mas freqüento o bar já faz um tempo.
-Tenho conhecidos aqui, acabei de sair de um relacionamento. -Respirei fundo ao ver a besteira que estava falando. Resolvi terminar. – Vão pensar que o relacionamento não significou nada, que já estou envolvido com uma desconhecida.
- Fique calmo garoto, se eles não nos vir se beijando. Vão deduzir que nada aconteceu, e que mesmo estando comigo, não teve coragem de me beijar.
- Isso que é estranho, eu quero te beijar! - Pareci confuso ao falar. – O relacionamento foi lindo, mas ela me trocou pelos estudos, sinal que realmente não fui nada para ela.
- Se quer algo deve fazer. Não pense em agradar o grande público, deve ser egoísta pensar em você.
Ela bebeu o último gole de seu vinho. Os olhos negros fitavam os meus, que não conseguir desviar do seu decote.
- Se quer muito uma coisa, deve fazer. Seja destemido, encare o mundo de frente.
Eu estava suando frio, com a pele fervendo. Fechei os olhos para refletir, quando senti meus lábios sendo tocados.
Tentei me envolver no beijo, mas na verdade ela estava com um dedo em minha boca, era o indicador, tocava meus lábios como pedisse silêncio.
Seu rosto encostou-se ao meu, sussurrou em meu ouvido:
- Vamos sair daqui, vamos onde ninguém pode nos ver.
Levantei devagar apoiando as mãos sobre a mesa. Me dirigi para junto da garota, tropiquei em uma cadeira, e quase cai sobre ela, ela me segurou nos braços, e foi me carregando devagar  a caminho da saída. Quando saímos caminhamos até meu carro, ou melhor, Laísa me carregou até ele. Dei a chave a ela, dizendo:
Me leve para onde quiser. Fui embarcado no banco do carona, ali apaguei.
Quando acordei o carro estava estacionado em meio a uma floresta.  Laísa estava junto ao carro, sentada no capo.  Levantei como pude e caminhei para junto dela, ao sentar no capo, vi que o olhar de Laísa estava triste. Comecei a acariciar seu rosto, e levei o meu para junto dele.
Nossos lábios se tocaram, sua boca tinha um gosto adocicado, mas nem um pouco parecido com vinho, nem chiclete, isso não importava. Ela ficou de pé e me puxou para junto dela, e voltamos a nos beijar.
Beijamos-nos por longos minutos naquele lugar deserto, suas mãos percorriam meu corpo, e as minhas o seu.
Sua pele era gelada, tentei acreditar que era pela fina garoa que caia sobre nós, foi quando senti a melhor sensação do mundo, até aquele momento.
Os dentes afiados de Laísa cravaram em meu pescoço, pude sentir que sugava minha jugular, não quis que parasse.  Acariciei suas costas me entregando em seus braços.
Naquele momento apaguei.
Acordei horas depois, já era dia claro.  Eu estava dentro de uma espécie de Caverna, um lugar úmido e sombrio. Comecei a revirar meus bolsos procurando a chave do carro, achei apenas um bilhete escrito com uma caligrafia perfeita.
Conteúdo do Bilhete
Já deve ter ouvido falar de vampiros, agora você é um.
Algumas lendas, são apenas lendas.
Outras são verdade.
Basta a você descobrir.
Favor não morra para isso.
P.S. Laísa
Sentado ali me senti mais vivo que nunca, Thais já estava caindo no esquecimento. Meu coração não pulsava mais, e eu precisava sobreviver. Não sei se “sobreviver” seria a palavra.
Talvez eu continue minha história...