domingo, 4 de setembro de 2011

Amando em silêncio


Estranho como admirava a beleza daquela garota, nos corredores da escola ela se tornava totalmente visível, não usava roupas extravagantes, era apenas um borrão em meio ao pessoal. Mas para mim, ela era a mais perfeita dentre tantas. Éramos ambos do 2º ano, mas de classes diferentes, eu apenas a via durante o recreio e algumas vezes antes de começar a aula. Jamais há encontrei fora da escola.
 Sentada no chão do corredor com o ipod em punhos se desligava do mundo ao seu redor. Na manhã em que conversamos pela primeira vez, ela estava usando coturno, calça jeans, além de uma camiseta dos RAMONES.
 Por tantas vezes cruzei por ela no corredor, e em tantas outras ficava imaginando a música que estava escutando.
 Parece idiota, mas sonhava ser como ela, ter coragem de gritar ao mundo foda-se. Nosso      primeiro contato foi dentro da biblioteca. Eu estava sentado lendo e ela simplesmente ao passar virou o livro de modo que pudesse ver a capa.
 -Menina que roubava livros, é uma boa história. - comentou ao me fitar com o olhar.
 -Sim, retrata bem a Alemanha nazista. – Não sabia como me portar diante do seu rosto maquiado.
 - Hitler foi um grande líder, mas infelizmente suas idéias eram tolas. Formar um mundo de arianos não adiantaria, o problema desse mundo são os alienados.
 Sua voz era doce, seus coturnos estalavam no piso a caminho das estantes.
 Por muito tempo não saiu da minha cabeça aquele final de frase, “o problema do mundo são os alienados.”.  Vindo dela foi como um ateu pedindo para eu ir à igreja, na minha percepção ela era a pessoa mais alienada que eu já vira, perdendo apenas para mim próprio. Ela ficava sempre ali com seu fone, ou lendo. Era um ser completamente anti-social, como podia chamar alguém de alienado. Resolvi que deveria achar maneiras de me aproximar.
 Depois de dias cheguei à conclusão que ela tinha segredos, que não era apenas aquele ser melancólico jogado no corredor, eu queria descobrir mais sobre ela.
 O ano já estava no fim, e todas as informações que eu tinha eram que curtia Ramones, Pitty, Evanescence, e mais algumas bandas. As férias chegariam e eu não a veria mais. E assim foi.
 Nas férias cada dia era uma eternidade. A maior parte do tempo fiquei em casa escutando as músicas que imaginava que ela gostava e pensando como faria para desvendar seus mistérios. Não tinha o que eu fazer, apenas sentar e esperar os dias passar.
 Em um dia nublado próximo ao fim das férias, sentado na sacada da minha casa, lendo o livro que havia ganhado de natal, podia ver o mundo que todos julgavam ser um mundo perfeito. Aquela velha senhora passeado com seu cachorro.
 - Ah se ela soubesse o que o marido faz enquanto diz que está no trabalho.– Sussurrei baixinho.
 E aqueles garotos aos berros enquanto jogam videogame na casa da frente.
 -Um dia saberão que jogar videogame não é a melhor coisa deste mundo.– Me vi aos risos ali sentado.
 Perdi-me em devaneios olhando a movimentação da rua e adormeci. Quando acordei já estava escuro, o sereno já havia molhado minha pele e minha mãe esmurrava a porta do meu quarto.
 - Carlos, ta ai?- pude notar a seriedade em sua voz- Desce agora pra jantar.
 - Já vou mãe!- gritei ainda acordando.
 Quando levantei me deparei com um pequeno avião de papel jogado em meus pés. Era um avião perfeitamente dobrado, tinha algo escrito.
Desdobrando rapidamente li as palavras que estavam escritas em uma caligrafia quase perfeita.
“Oi garoto leitor, livro novo? Espero que tenha acabado o último.”
 Logo pensei na misteriosa, só poderia ter sido ela que havia me enviado tal recado. Desci as escadas correndo, sentei-me à mesa e fui logo devorando o que via em minha frente.
 - Vai se engasgar- Pude ouvir meu pai.
 Não dei atenção, terminei de comer e subi as escadas correndo. Cheguei ao quarto e novamente peguei pra ler o bilhete que em um momento foi um avião.
 Em minha cabeça projetava o rosto da garota que por dias não havia visto.
 -Ela passou aqui, me viu dormindo com o livro em mãos. Será que ela notou que estava dormindo. Com certeza sim. Burro burro burro- Sussurei ao acariciar aquele papel que acreditava ser da minha amada misteriosa.
 Nos dias seguintes fiquei observando da sacada do meu quarto. E não vi  nada além do pacato cotidiano, vizinhos que cumprimentavam, crianças que corriam pelos jardins.  Os dias passaram e as férias foram acabando.
 No último dia das férias minha mãe subiu as escadas enquanto estava deitado em minha cama ouvindo música.
 - Carlos, abre a porta. Chegou uma carta para você. – Levantei calmamente, pois imaginava ser apenas propaganda ou algo assim. – O mais estranho é que não tem remetente e nem selo. Tá apenas escrito em caneta – minha mãe fez um silêncio- para Carlos, vírgula, o leitor da rua.
 Abri a porta rapidamente, peguei a carta e fui logo rasgando para abrir.
 “Sei que deve estar curioso, eu também estaria. Amanhã na escola talvez eu me revele para você. Talvez não. Sou tímida. Queria ser um livro para sempre estar entre seus dedos.”
 Tremia ao ler tal carta. Não consegui dormir naquela noite. Estava ansioso demais para descansar. Reorganizei meus materiais muitas vezes. Já se passava das duas da madrugada quando deitei. Não preguei o olho um segundo.
 Eu odiava o primeiro dia de aula, aqueles jogos de integração e as fofocas sobre as viagens e festas... A escola quer formar adultos e acaba por fazer um regresso ao jardim de infância no primeiro dia letivo. Uma tremenda tolice em minha opinião.
 Aquele dia não foi diferente, mas algo novo despertou a minha atenção.
 Sentada em um canto da sala estava a tal garota. Com uma camiseta desbotada do Nirvana, uma calça Jens, e um All star preto. Permaneceu calada todo o 1º período.
 Eu do outro lado da sala tentava me manter calado, observei que ela me olhou algumas vezes. Mas eu não conseguia parar de olhar.
 No inicio do segundo período o velho professor de História fazia a chamada quando ouvi a única palavra que ela pronunciou até aquele momento. O professor ergueu os olhos sobre a turma quando disse em um ar desanimado:
- Franciele?
 Erguendo a cabeça ela apenas disse:
 -Aqui! -Continuou a fazer o que estava fazendo, vendo de longe eu acreditava ser um desenho.
 Os períodos passaram um após o outro. E não ouvi mais nenhuma palavra de seus belos lábios.
Durante o recreio a sala permaneceu aberta. A Franciele continuou ali sentada rabiscando algo em seu caderno.
 Resolvi tomar uma atitude, vou caminhar até lá e vou ver a letra dela. Levantei e fui a passos tétricos até a mesa dela. Parei diante de sua classe fitando o caderno com os olhos.
 - E ai?- Pude ouvir. Ela não ergueu os olhos para me perguntar.
 Pensei: é a timidez.
 - Me chamo Carlos. -falei entre os dentes.
 - Eu Franciele, gostou do desenho?
 -Sim gostei- respondi- Você costuma passar na minha casa?
 -Nem sei onde você mora!- falou rindo- Acho que está se confundindo.
 - Não foi você que me mandou a carta? O aviãozinho?
 - Desculpe rapaz, não sei nem seu nome.
 Neste momento o barulho de uma classe sendo arrastada calou ambos.                                                   Pude ver Juliana, levantando rapidamente e correndo porta afora aos prantos.
- Ou caiu um cisco no olho daquela menina, ou você descobriu quem é que te mandou os bilhetes. - Franciele respirou fundo – Nem te conheço, você para mim é apenas mais um nessa sociedade medíocre. Notei que passou a manhã me olhando, me desculpe, você não faz meu tipo. Cresça e apareça. Agora saia daqui, você me causa náuseas. Garoto idiota!
 - Desculpe- foi só o que falei. Suas palavras ecoavam em minha cabeça.
Depois daquele dia mudei meus conceitos sobre a menina rebelde que descobri se chamar Franciele.
Juliana não voltou para sala de aula naquela manhã, naquela tarde recebi uma nova carta.
 “Fui tola em não me identificar, não falar o que sinto, mas o que sinto não é de hoje. Muitas vezes te vi lendo na biblioteca, e passei reto sem nem ao menos dizer uma palavra. Foram muitas as vezes que você estava na sacada e eu apenas olhei, sem nem ao menos dizer uma palavra.
Espero que seja feliz com a Franciele.
Abro mão da minha felicidade pela sua.”
 Na manhã seguinte descobri através de colegas que Juliana tinha mudado de escola. Estaria estudando em outro bairro só para não ver mais meu rosto.
 Nunca mais senti nada pela Franciele, o único sentimento que habitava meu coração era o de pena. Pena da Juliana, que abriu mão de seus amigos, deixou sua escola por causa de um amor não correspondido.  E hoje acabo por sentir pena da Franciele, que com toda sua inteligência, e essência de superioridade fica isolada do resto da turma.

Pensamento que não quer calar

Pode ter ficado ruim, pode ser o meu pior texto. Esse realmente é um texto pessoal

Pra mim é fácil escrever um conto, é fácil escrever uma história de seres fictícios cheios de aventuras, uma história que emociona. Uma história que faz o leitor viajar entre as palavras.
O que é difícil, é viver o cotidiano.
Quando eu estudava, era por obrigação. Meus pais me obrigavam. Eu, por minha vez, só freqüentava a escola e estudava com o objetivo de terminar aquilo tudo de uma vez.
No ano de 2007(ano seguinte ao término do ensino médio), já estava arrependido de não ter estudado mais, não estar capacitado para prestar vestibular em uma faculdade pública, ou prestar Enem e conseguir uma bolsa através do Pro Uni. Naquele momento tinha notado que queria ser algo mais que um mero operário em uma empresa. Apenas mais um diante dezenas.
Hoje dia 4 de setembro de 2011, aqui estou eu, falta uma semana para o meu aniversário, farei 22 anos. Já se passaram quase cinco anos que terminei o ensino médio, e ainda não sei que carreira seguir. Continuo sendo um mero operário, não tenho vergonha disso. Porém quero mais para meu futuro.
Muitas pessoas, na grande maioria amigos, inclusive uma escritora que admiro muito (Susy Ramone http://susyramone.blogspot.com/), pediram para que eu seguisse escrevendo, tentasse carreira como escritor.
Foi em 2007, enquanto tentava impressionar uma garota que acabará de conhecer que escrevi meu primeiro conto. Dias depois fiz meu primeiro blog, hoje ele deve ser apenas mais um na internet assim como esse.
A garota é a Caroline. (Princess Vampire como se denominava na época).  Com ela, pra ela escrevi meus primeiros contos. De nada adiantou levando em conta a conquista. Descobri uma paixão, a escrita.
Caroline despertou algo em mim, a vontade de escrever. Eu muito egoísta escrevia mais em busca de amizades, postava meus contos em comunidades do Orkut. Assim conseguia um contato ou outro para minha lista de amigos.
Hoje meu objetivo na escrita não é esse. Hoje escrevo para passar aprendizados que tive com a vida ou apenas passar para as pessoas histórias que surgem em minha cabeça. Minha única expectativa é opinião das pessoas sobre o que escrevi. Não busco amigos e sim opiniões.
Este blog já teve mais de 5500 visitas, sei que é um número pequeno. Mas diante deste número me pergunto.
Quem foram as pessoas que leram meus contos? Qual a opinião alheia sobre eles?
Algumas pessoas já disseram o que acham através de comentários, outros me disseram no MSN.
Hoje aqui sentado, escrevendo este texto, me pergunto. Será que é isso que devo fazer? Devo continuar escrever e quem sabe um dia escrever um livro ou algo do gênero?
Comecei a escrever este pequeno texto, em busca de demonstrar a angustia de querer seguir uma carreira, sem saber qual seguir,angustia de não se achar no meio da sociedade. Mas acabei escrevendo um pouco de mim, sobre como comecei a escrever.
Adoro escrever contos, coloco parte de minha personalidade neles. Gostaria que através de comentários, que todos aqueles que estão lendo esse texto expressassem sua opinião sobre o que escrevo.
Se devo continuar a escrever ou apenas devo desistir?
Faço essa pergunta, pois penso em um dia levar a escrita como carreira. E mesmo com todo o apoio que já tive ainda tenho duvidas se sou bom o bastante.