quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Vermelha


Durante duas semanas eu e o Luar, um amigo que trabalhava comigo na época, planejamos ir ao show da Cachorro Grande  no Três Coroas em Festa.  A primeira dificuldade foi como ir, sendo que nenhum dos dois tinha carro nem ao menos carteira. Isso foi resolvido logo, meu pai nos levaria e voltaríamos de ônibus no dia seguinte.  Estava 100% combinado,  por fim o Nico foi junto. Para entrarmos no brilho bebemos uma caixinha de cervejas em lata, parte dela ainda dentro do carro e as demais foram bebidas em uma calçada perto da entrada da festa.
Entramos logo depois das 22 horas, e a primeira coisa que fui fazer foi dar uma aliviada, difícil foi achar onde, por fim avistamos dois banheiros químicos, consegui a façanha de entrar no feminino. Na saída do banheiro a poucos metros estava um segurança que deu um sorriso torto a me ver sair.
A sede estava grande, íamos da bilheteria, para a chopeira, e logo após o banheiro, o show demorou a começar, e eu já estava fora quando começou. Nem 1 da manhã, eu já estava me controlando na bebida, o Nico também acalmou, porém o Luar buscava de dois em dois.
Estava em frente a chopeira esperando o Luar quando cruzou uma ruiva com longo cabelo cacheado  até a cintura, calçava uma bota allstar que ia quase até o joelho, por impulso a puxei pelo braço, ela me olhou fazendo uma cara de “ein”, logo depois descobri que essa carinha era um de seus charmes. Naquele momento realmente travei, ela ficou me olhando e por fim me perguntou:
- E ai?
Ainda um tanto travado formulei a resposta:
- Acho que te confundi!
- Tranqüilo. – Ela respondeu, sua cara era de bebaça.
- Você viu minhas amigas? Onde elas foram?
O Nico já se meteu:
-Foram para lá.
Nesse momento uma de suas amigas a puxou pelo braço vindo do outro lado, sua amiga me pareceu conhecida, mas nem dei atenção, pois estava bêbado. O Luar voltou e seguimos para ver o show. Estávamos a direita do pavilhão, um local com pouca gente, ao oposto das chopeiras, mas tinha boa visão do palco. O Luar ocasionalmente sumia com a desculpa de ir buscar um chopp ou até mesmo por distração em meio ao pessoal.
 Foi em meio a um desses sumiços do Luar que olhei para o meio da multidão, algo me chamou a atenção, o reflexo de um cabelo vermelho que se sacudia loucamente, ao seu lado também dançando loucamente estava a sua amiga aquela da copa, que por fim reconheci, sendo filha da madrinha do meu irmão, a Darcila, sabia que ela curtia rock, mas nunca havia encontrado-a em festa. Junto com elas tinha mais algumas garotas e uns garotos que nem dei atenção.
Apontei o grupo para o Nico, ele logo foi chegando mais perto, quando estava  a 2 metros colocou as mãos nos bolsos da calça e ficou concentrado olhando diretamente para a misteriosa ruiva, que já não dançava mais. A ruiva a Darcila e uma outra menina também gata, as três riam em coro olhando para o Nico. Pensei coitado, vai ser esculachado. O Nico tinha apenas 15 anos, em minha opinião não aparenta mais, só que não tem medo do perigo.
A ruiva o chamou para junto dela, ao longe pude as ver rindo, e novamente pensei coitado. Quando em milésimo de segundo os dois se beijaram, e não havia santo para separar. Eu estava parado ao longe sem nem ao menos saber o que pensar. Fui chamado e apresentado, a misteriosa ruiva se chamava Dieni, e tinha sinais visíveis de embriagues.  Após a apresentação e ouvir papo furado, fui procurar o Luar, minha tentativa foi frustrada.
No momento em que voltei para o grupo, fui convidado para ir para tal de “Esquina da Vergonha”, o nome era legal, nem fazia idéia do que se tratava. Não ousei em responder não, a festa ali logo deixaria de ser de rock, e a graça sairia pelos fundos. O Detalhe era  achar o Luar, quando o achei estava com o irmão do Nico, e mais duas garotas. Deduzi, está trabalhando, na mina. O deixei e observei de longe, quando dei conta ele havia saído. Questionando o irmão do Nico sobre o paradeiro do Luar, tive como resposta:
-Sei lá, saiu caminhando pra te procura.
Quando finalmente o achei, falei para ele sobre o Nico e a proposta da tal esquina da vergonha, o Luar respondeu:
- Se vai outras minas junto, estou nessa!
Depois fomos falar para o Nico que poderíamos ir, o Luar teve que ir ao banheiro, nós ficamos espertando-o em frente ao banheiro, Eu, Nico, Dieni,  Darcila e a outra menina que soube se chamar Edi. O Luar demorou a voltar e nesse meio tempo, passou por nós um casal de amigos da Dieni, o cara se  apresentou por Beto, disse já estar indo embora pois teria ensaio no sábado pela manhã, era vocal de uma banda. A menina nem sei o nome, além da beleza me chamou atenção que ela vestia uma camiseta da banda Tequila Baby.  Algo não muito comum entre garotas.
Questionei-o sobre o que era a esquina da vergonha, rindo me perguntou:
-Tu não conheces a esquina da vergonha?
-Não. - respondi. Tentando me esconder dentro do casaco.
-Bah, é um lugar que conheço do meu tempo de guri, a galera se reúne para ouvir um rock, jogar um xadrez, tocar um violão... Anos a trás era mais freqüentada, mas sexta é sagrada sempre tem uma galera por lá.
Eles se despediram e saíram. Após alguns minutos o Luar veio de outro lado, com dois chopes.  Fomos os seis a caminho da tal esquina da vergonha. O Luar brincou dizendo que iríamos todos dormir na casa da Dieni. Ela por sua vez respondeu calmamente:
-Iríamos se meu pai não estivesse lá!
- Então melhor não, não quero apanhar de facão. – Rebati rindo.
- Pior é levar uns tiros, meu pai tem duas espingardas, mês passado gastou uma nota comprando uma de Pressão.
- É ai que não vamos.  – o Nico falou respondeu encolhendo o corpo para junto do da Dieni.
A Darcila, e a Edi caminhavam à frente na maior parte em silêncio, ou conversavam entre si. O Nico e a Dieni caminhavam logo atrás, acompanhados por mim e pelo Luar, que não calávamos a boca por um minuto.
Quando chegamos à esquina, vi que era apenas uma esquina, imaginei um bar ou algo assim. Na esquina estava um Chevette estacionado, sentado na calçada tinha algumas pessoas. Pelo menos uma garota e três caras. As gurias estavam em casa, conheciam todos pelo nome. Escutavam um rock pesado, porém nacional no som do carro, curtindo o som perguntei para o cara que banda era.
-Matanza. Os caras são muito bons. – Respondeu.
O outro falou algo que não entendi, bebiam algo que também não distingui.
A Darcila e a Edy se sentaram na calçada um pouco para o lado, a Dieni e o Nico sumiram por de trás de uma parede. Resolvi sentar também, pois além de bêbado estava cansado da caminhada. O Luar primeiramente sentou, ficou falando com a Darcila, acho que as respostas não agradaram, ele levantou e saiu caminhando pela rua.
Do nada começou a falar mal de três Coroas.
-Essas velhas não servem para nada, de que adianta vir aqui, não tem porra nenhuma nesse centro!
Notando seu estado o tirei:
-  Sim, e as laranjeiras?
- As Laranjeiras têm a pista de DH, só lá presta! O resto é uma bosta! –Respondeu.
Nesse momento o casal deu o ar da graça, a Dieni se dirigiu direto a mim perguntando:
-Pive, como vocês vão embora daqui?
- Acredito que amanhã de ônibus...
 Fui interrompido pela Edi perguntando:
-E onde vão dormir?
- Que dormir, nós iremos vagar por ai até amanhecer e depois...
-Não, aqui é perigoso na noite, não conseguem uma carona?- Essa vez a Dieni me interrompeu.
-Posso ligar para o meu pai, mas o coroa deve estar dormindo.
-Liga, ai nós não nos preocupamos!- Disse comentou a Edi.
Difícil foi achar um celular com bateria e saldo, por fim acabei usando o da Darcila para ligar para o meu pai. Ninguém atendia. Dei um tempo.
- Que banda estava tocando no carro?- perguntei para a Dieni, que não desgrudava o Nico por um segundo, ou era visse versa.
-Matanza?
-É. - Respondi sem certeza.
- Matanza é do caralho. Te gravo um CD deles se você levar o Nico no Tio Remi amanhã. Vai ter banda Identidade.
Naquele momento me senti um grande poser, o cara que lê o crepúsculo e escuta Avril e se diz gótico. Não conhecia Matanza e nem a banda Identidade. Mas aceitei a proposta.
Conversávamos ou tentávamos conversar sobre qual era o estilo da banda identidade quando fomos silenciados pelo som de alguém fazendo ânsia do outro lado  da rua.
Olhei e não podia ser outro, o Luar escorado em um Latão de lixo que estava cheio e vomitando ao lado. Corri lá, tirei o lixo to latão e pedi que vomitasse dentro para não dar sujeira.
-Vomito onde eu quero. Me deixa. – Gritou tentando manter o equilíbrio quando eu já estava saindo.
Voltei a ligar para o meu pai, que finalmente atendeu. O coroa se prontificou a ir nos buscar. Mas demoraria um tempo. Fiquei sentado conversando com a Dieni que dava graças por nós não ficarmos na rua o resto da noite.
Do nada a Darcila veio até mim e calmamente disse:
- Pive, aquele teu amigo que tava vomitando ali, ele disse que ia embora e saiu!
- Mas o que ele realmente disse.  -Retruquei.
- Vou embora suas chatas.  E foi. – A Darcila disse rindo.
Naquele momento, descobri que a noite ainda seria longa. Fui até a praça do outro lado da rua e nada do Luar. Caminhamos todos juntos  até a festa, falamos com um segurança, um guardador de carros, e até um cão abandonado. E nada do Luar.
Enquanto caminhávamos a procura do Luar, a Edi me contava de um amigo Hippie, que viajava por tudo de bicicleta vendendo seus artigos.  Depois de não acharmos o Luar pelas ruas da festa, voltamos em direção à Esquina da Vergonha.  Do nada, um carro buzina, era o irmão do Nico. Estava indo embora da festa. Acabou parando com nossos gritos. Ele acabou levando o Nico junto, e eu fiquei com as gurias para procurar o Luar e esperar o meu pai. O Nico nem se despediu da Dieni, apenas embarcou no carro e se foi.
Quando ela viu o carro arrancar me perguntou:
-Todos os caras de igrejinha são assim? Saem sem dar tchau?
Rimos em coro, mas nosso riso foi calado pela buzina de uma Brasília que estava na sinaleira do outro lado da avenida.
- Olha o coroa, dando bandinha, quer mexer com as gurias! – Dieni falou rindo.
Quando virei para ver o carro, vi meu pai parado no sinal aberto. Despedi-me rapidamente das gurias, dizendo que continuaria a procurar o Luar agora com o meu pai. Elas me desejaram boa sorte, e seguiram caminhando pela rua.
Corri até o carro e voltamos a procurar o Luar, agora eu e meu pai. Voltamos até a festa, onde com permissão de um segurança adentrei e perambulei em busca do Luar. E nada. Como última alternativa, eu e meu pai voltamos para a praça, onde encontrei a Dieni, Darcila e Edi, tirando fotos. Por existência até tirei uma com elas.  Por fim voltei a me despedir, embarquei no carro e voltei para Igrejinha, sem pistas do Luar.
Na noite seguinte descobri que o Luar realmente tinha vindo para casa. Foi recolhido pelo Nico e seu irmão ainda em Três Coroas, se encaminhando para Igrejinha.  Na noite seguinte, fui com o Nico no Tio Remi, mas nunca recebi meu CD do matanza, a banda Identidade é do caralho, mas como fiquei com as velas, fui embora cedo... Quanto ao nosso jovem casal. Ficaram mais algumas vezes depois daquele fim de semana, A Dieni está curtindo, o Nico sei lá jura estar apaixonado...
Lembro de uma noite enquanto eles ainda ficavam. Era sexta-feira a Dieni iria para o Bar do Morro, e eu e o Nico decidimos apenas sair para beber. Era 2 da manhã o Nico já tinha vomitado metade do fígado, quando me pediu para eu ligar para Dieni e pedir para que ela viesse buscá-lo. Com muita insistência, alguém atendeu ao telefone da Dieni.  Identificou-se como Josi, pedi pela Dieni. A voz feminina do outro lado da linha respondeu:
-Ela não pode falar agora, ela ta aqui em Sapiranga, bebeu todas e ta soltando os Bofês, vomitando tudo que tem no estômago...  A  ligação caiu.
Talvez conto  nesta noite  em outra oportunidade.
Foto tirada na praça
Realmente criei esse conto, ou melhor, recontei os fatos da noite do dia 07 de maio de 2010. Por  pedido da Dieni, que estava bêbada demais para Relembrar.

2 comentários:

  1. Meu Deus Pive! Nem lembrava de todos esses detalhes... Dá saudades desses bons tempos!
    Edi

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